ProART Entrevista: Bárbara Barradas - A voz como reflexo da alma

Por Joana Patacas*, em 16 de abril de 2024

A soprano Bárbara Barradas, uma artista cujo puro talento tem sido consistentemente elogiado, possui uma voz encorpada e vibrante e uma presença magnetizante em palco. 

A sua experiência acumulada permitiu-lhe dominar a técnica vocal e incorporar uma intensa capacidade de comunicação e uma sensibilidade artística que supera a performance. 

Com uma carreira que transcende as simples notas numa partitura, guia-nos por uma jornada de crescimento artístico e pessoal, desde as suas primeiras memórias de infância, passando pela sua formação na prestigiada Guildhall School of Music and Drama e pelo seu regresso a Portugal, partilhando os desafios que superou, com determinação e garra. 

Reconhecida pela sua versatilidade e excecional técnica vocal, Bárbara Barradas tem a capacidade única de tocar o coração não só do público, mas também da crítica: 

"É uma artista excecional, uma cantora nata (...) com uma voz redonda e bela, uma presença em palco excecional, e uma messa di voce que, depois de Caballé, dificilmente se encontraria". (Ingo Kolonerics, diretor do Opera im Berg Festival em Salzburgo

Fez parte do Flandres OperaStudio e da Wales Academy of Voice & Dramatic Arts. Participou em Masterclasses com Dame Kiri Te Kanawa, Enza Ferrari, Mara Zampiere, Ann Murray, Graham Johnson, Dennis O’Neill, Sarah Walker, Nelly Miricioui, Tom Krause (ENOA), entre outros. Foi distinguida pela atribuição de bolsas de estudo, como a da Fundação Calouste Gulbenkian, e de vários prémios em mais de 10 competições Nacionais e Internacionais. 

“ Quero curar e tocar as pessoas através da minha voz (…). O meu objetivo é difundir a essência cristalina que reside no coração da ópera, ou seja, essa qualidade pura e luminosa da voz lírica.” (Bárbara Barradas, 2024) 

Nesta entrevista a Bárbara Barradas, conduzida por Joana Patacas (JP), revelamos o percurso inspirador de uma artista que encontrou na voz o veículo para a sua expressão mais autêntica, explorando não só o seu legado no canto lírico e a sua vontade de democratizar a ópera, mas também a sua visão inovadora da arte como veículo para o desenvolvimento pessoal.

JP: Como é que tudo começou, ou seja, quando é que descobriu a sua paixão pelo canto?  

Bárbara: Desde que me lembro, a música sempre fez parte de mim. Ainda pequena, lembro-me de acordar muito cedo, por volta das sete da manhã para ver os filmes da Disney e começar a cantar com tanta alegria que os meus pais chegavam a pedir-me para me calar. Sempre me senti muito ligada à música. Brincava muito às rádios e aos programas de televisão. 

JP: Essas brincadeiras já evidenciavam uma inclinação natural para a performance. 

Bárbara: Exatamente. E não só para a performance, mas também para a comunicação e para a arte em geral. A dança foi outra paixão constante na minha vida. Comecei a aprender ballet aos cinco anos, mas aos 12 tive de fazer uma pausa porque a música exigia mais de mim e não conseguia conciliar as duas atividades. Aos 18, retomei as aulas de ballet, determinada a aperfeiçoar a técnica das pontas. Consegui completar o curso e fazer o 8º grau entre os 18 e os 21 anos, mas não continuei, porque depois fui estudar canto para Londres. 

JP: Pode partilhar connosco um pouco sobre o seu percurso? 

Bárbara: Desde pequenina, tinha uma paixão pelos Onda Choc, um grupo de adolescentes que faziam covers. Nas festas de aniversário, eu é que punha toda a gente a dançar. Já tinha perfil de liderança, mas essa confiança foi-se desgastando com o tempo, em parte por causa da pressão da sociedade e do bullying que sofri na escola, especialmente quando comecei a aparecer na televisão. 

JP: E como foi que essa exposição na televisão começou? 

Bárbara: Tudo começou quando eu tinha oito anos, durante umas férias no Algarve com a minha família. Fomos visitar uma prima da minha mãe, cujos filhos estavam no coro da Ana Faria – os Jovens Cantores de Lisboa. Ela ouviu-me cantar e, depois das férias, contactou a minha mãe para eu fazer um teste para o coro. Fui, fiquei como solista, e num mês já estava a gravar temas. Esta foi a grande porta de entrada para o mundo do espetáculo. Comecei a ir a programas de televisão todas as semanas. Participei no concurso “Os Principais” e comecei a cantar música pop. Também participei em concursos a nível nacional com originais. Entre os 8 e os 16 anos fiz este percurso da música pop. 

JP: E como é que estas experiências contribuíram para o início da sua formação musical? 

Bárbara: Quando comecei a gravar temas, a Ana Faria aconselhou os meus pais a inscreverem-me no Conservatório, pois a minha voz já era lírica. Nesta altura já tinha alguma maturidade e era muito perfeccionista. Gravava tudo à primeira, o que era raríssimo para uma criança, e dava indicações de quando eu achava que estava a desafinar, mesmo sem perceber nada de música. Embora cantasse música pop, na minha voz já se reconhecia um vibrato lírico, mesmo em tenra idade (8 anos). Apesar de ser raro aceitarem crianças, consegui entrar no Conservatório. Embora o ambiente mais austero tenha sido um choque. Queria aprender a tocar harpa e a cantar, mas com a idade que eu tinha não era possível ter aulas de canto – só a partir dos 16 anos. Fiz testes e acabei por me iniciar no piano, mas continuei sempre a cantar em paralelo. 

JP: Então ao mesmo tempo ia fazendo carreira na música pop? 

Bárbara: Sim, até porque aos dez anos, entrei para os Onda Choc, realizando um dos meus sonhos de infância. Aliás, essa experiência reforçou a minha crença no empoderamento e na manifestação dos meus desejos. A minha brincadeira de criança era ser artista e estar a cantar nos Onda Choc, como se, de alguma forma, já estivesse a viver esse sonho na realidade. Essa experiência veio reafirmar a ideia de que podemos trazer para o presente a sensação de algo que desejamos intensamente, como se já estivesse a acontecer. E sofri bullying na escola. Fugiam de mim porque eu era “aquela da televisão”. Foi muito duro. Por essa razão, construí uma carapaça para me proteger – “não vais chorar porque és forte”. Mas sempre tive o apoio dos meus pais, especialmente da minha mãe que me levava de um lado para o outro e estava sempre comigo em todas estas atividades. As experiências que vivenciei durante a minha infância e adolescência, juntamente com os desafios emocionais que enfrentei na vida adulta, foram os elementos fundamentais que inspiraram a criação do meu projeto “Empodera-te na Voz”, agora também disponível em Podcast. Essas vivências deram origem ao meu método exclusivo e personalizado, registado como “BByourvoicemethod”. 

JP: Mas isso já é mais tarde?  

Bárbara: Sim, é um projeto recente, que está relacionado com questões em torno do desenvolvimento pessoal, que sempre estiveram muito presentes na minha vida. 

JP: Antes de falarmos sobre o projeto “Empodera-te na Voz”, gostava de saber quando é que o canto lírico entrou realmente na sua vida? 

Bárbara: Foi aos 19 anos, precisamente quando estava prestes a lançar um disco de música pop. Nessa altura, senti a necessidade de ter aulas de canto e aprender técnica vocal, por isso, já no meu último ano do curso de piano, pedi para ter Canto como segundo instrumento. Em paralelo, já na licenciatura de Design e Comunicação na Faculdade de Belas Artes, firmei aquilo que tinha sentido, assim que comecei a ter aulas de técnica vocal: que o Canto era o caminho da minha vida. 

JP: E gravou esse primeiro disco? 

Bárbara: Não. Acabei por ligar ao produtor e dizer-lhe que o disco não ia sair. Foi a primeira decisão visceral que tomei. Tinha começado a estudar canto com o professor José Carlos Xavier, que teve um papel fundamental no meu desenvolvimento artístico. Foi nesta altura que ganhei o Prémio Revelação no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi e a bolsa de estudo da Gulbenkian. 

JP: Então o canto lírico começa a ganhar espaço na sua vida? 

Bárbara: Sim, mesmo quando ainda estava na faculdade havia uma voz interior que me dizia “Não quero estar aqui”, e só me sentia bem quando chegava ao Conservatório. Até houve uma altura em que a minha mãe me dava boleia e eu fingia que ia para a faculdade, mas nem sequer ia às aulas, e seguia dali a pé para o Conservatório. A meio do 2º ano, acabei por desistir do curso. Tinha 19 ou 20 anos, quando fiz a minha primeira carta astral, a pessoa que fez a leitura, perante o meu dilema de interromper os estudos para ser cantora, disse-me: “Mete o teu sonho no peito, seja qual for, e é ele que te vai guiar.” E assim foi. 

JP: Foi nesta altura que decidiu ir estudar canto para Londres? 

Bárbara: Fiz provas para a Guildhall e fiquei colocada com bolsa de estudo, o que significava que tinha as propinas pagas. Foi a primeira vez que saí sozinha de Portugal e com uma grande responsabilidade. Foi uma experiência atribulada! Perdi o primeiro voo, falava muito mal inglês, mas a audição correu bem e fiquei colocada com a bolsa de estudo. Dois meses depois fiz as malas e fui viver para Stratford. O sítio era longe da escola, mas dividi casa com outras raparigas que também estavam na escola – uma delas até era minha colega de turma. Nunca tinha vivido sozinha e de início foi um choque, mas depois adaptei-me. 

JP: A sua passagem pela Guildhall foi determinante para a sua carreira?   

Bárbara: Foi determinante, sem dúvida. Trouxe-me muita coisa boa e má. Apercebi-me de que ali era apenas mais uma no meio de trezentos e tal cantores, o que me obrigou a aprender a lidar com a frustração e a descobrir que era uma pessoa muito resiliente. Mas também me permitiu crescer, e durante esse período expandi-me, tanto a nível pessoal como profissional. Durante aqueles nove anos cresci a nível técnico, mas também a nível interior. Fiz o mestrado na Guildhall [Bmus e Mmus em Canto] e depois estive em Ghent e em Cardiff a fazer o Flanders OperaStudio, agora IOA e o Wiav com Dennis O’Neill e Dame Kiri Te Kanawa. Estive também em Glyndebourne, em Holland Park e noutros coros de festivais de verão, que foram os meus primeiros trabalhos pagos como cantora. Também trabalhei em cafés, a servir às mesas e a cantar no Bel Canto, o que todos nós que estivemos em Londres fizemos. Foi assim que comecei. 

JP: Planeava fazer a sua carreira no estrangeiro? 

Bárbara: Acho que sempre pensei em regressar a Portugal, o que fiz com 31 anos. O tempo que estive em Londres e as experiências pelas quais passei ajudaram-me a perceber que quando não estamos emocionalmente equilibrados, por mais técnica que tenhamos, a nossa voz não funciona, o corpo não funciona. Ainda assim, toda essa aprendizagem fez de mim a pessoa e cantora que sou hoje. Foi fundamental ter regressado e agarrar essa oportunidade para viver realmente a minha liberdade e recomeçar do zero. Voltei para casa dos meus pais e vivi uma espécie de adolescência tardia, mas com mais consciência, no sentido em que queria estar livre numa situação de vida em que tinha menos responsabilidades. Os anos entre 2017 e 2019 foram muitos crus. 

JP: Conte-nos mais sobre esse período.   

Bárbara: A minha carreira alavancou verdadeiramente quando regressei a Portugal e deixei de estar vinculada a uma escola ou fundação. Sinto que só a partir daí é que agarrei as rédeas da minha vida. Passei a ser mais reconhecida no nosso país e a ser chamada para mais espetáculos. Paralelamente continuei a ser convidada para participar em vários OperaStudio e Masterclasses, essencialmente patrocinados pela Gulbenkian – ENOA. Em 2019, também fiz audições em Nova Iorque, Viena e Alemanha. Dessas experiências tive alguns agentes interessados no meu trabalho, sendo que até havia perspetivas futuras. No entanto, devido à Covid-19, não se concretizou. 

JP: E que papéis mais gostou de fazer? Como é que se preparou? 

Bárbara: Destaco o papel de Lucia, em “Lucia di Lammermoor”, de Donizetti, como o mais marcante no meu percurso, no meu início de carreira. Tive a oportunidade de o cantar em Salzburgo, em Amesterdão e fazer o cover em Londres, no festival de Holland Park. A Maria, no” West Side Story” do Filipe La Feria, foi igualmente marcante, por outros motivos, nomeadamente pela escola que obtive ao estar em palco, onde desenvolvi a minha natureza enquanto atriz e aprofundei o métier na área da representação. Esta foi uma experiência de 12 meses que acabou por me dar equivalência ao 4º ano da Guildhall. Depois disso, só tive de fazer o exame final de Canto. O trabalho que fiz com a Susan Waters na Guildhall deu-me uma boa base, mas quem desbravou a fundo a minha voz foi a Lúcia Lemos, com quem preparei o meu primeiro grande papel de ópera, Gilda, de Rigoletto de Giuseppe Verdi, aos 23 anos, para o Festival de Ópera de Óbidos. Foi uma grande escola. Foi uma grande escola. A Lúcia é uma pessoa com uma consciência corporal muito acima da média e com um grande desenvolvimento emocional e cognitivo a nível de relações humanas. Houve uma grande ligação entre nós e aprendi muito nas aulas dela. 

JP: Há pouco falou da pandemia. Como é que lidou com esse período? 

Bárbara: Comecei a investir em mim e no meu desenvolvimento pessoal. Fiz psicoterapia e coaching, e aprofundei os meus conhecimentos nesta área através de extensas leituras e reflexões. Comecei a dar aulas particulares de canto online. Também criei a “Masterclass de Canto 2 em 1” com a mezzo-soprano Cátia Moreso, que teve muita adesão e foi um sucesso. Juntamente com o pianista Vasco Dantas e a atriz e encenadora Sónia Aragão, formámos o “Art Allurement”, uma associação cultural, que junta o canto [Bárbara e Cátia Moreso], o piano [Vasco Dantas], a encenação e arte dramática [Sónia Aragão, que também é bailarina] e o desenvolvimento pessoal. Depois do confinamento começamos a organizar cursos presenciais e concertos como trio, porque o objetivo também era mostrarmos o nosso trabalho e impulsionarmos as nossas carreiras. 

JP: E que impacto tiveram em si essas experiências? 

Bárbara: Foram muito importantes porque permitiram que me empoderasse nas minhas próprias capacidades de criação. Compreendi que, muito mais do que interpretar um personagem ou uma partitura, a minha voz está ao serviço de algo maior do que eu. Percebi que tenho a capacidade de gerir os meus próprios recursos e fiquei a conhecer a fundo não só os meus motivos, medos e bloqueios, mas também as minhas crenças, o que me tem permitido superar os obstáculos de forma mais rápida e leve. Também comecei a dar aulas particulares e, enquanto coach vocal, e hoje aplico uma abordagem integrada através do meu próprio métier BByourvoicemethod. Percebi que as pessoas me procuram precisamente por isso. Assumo perante o mundo esta minha parte mais holística, sem medo do julgamento. 

JP: É neste contexto que surge o seu projeto “Empodera-te na Voz”?  

 Bárbara: Esse projeto surgiu naturalmente. Começou a ganhar forma um pouco antes de eu interpretar o papel de Corinna na ópera “Il Viaggio a Reims”, de Gioachino Rossini, no final de 2022. Sempre tive coragem para estar em palco, mas tinha muito medo da rejeição. Quando fiz este papel estava a integrar em mim o tanto que fui transformando sobre dor. Isso permitiu-me estar em palco sem sentir que estava realmente a viver a dor do personagem, que paralelamente via como minha. Aprendi a ressignificar a dor, ou seja, a ir ao lugar da dor, olhar para ela, reconhecê-la e acolhê-la. Isto significa que passei a ter a capacidade de olhar para o meu passado e perceber que essa dor antiga já não faz parte do meu presente, no qual eu posso escolher sentir-me de uma forma diferente numa situação parecida. Tem sido um percurso de autoconhecimento que me permite perceber porque é que eu me sentia insegura, porque é que ficava nervosa e porque é que esperava validação externa. Comecei a juntar todas as peças e desenvolvi o projeto “Empodera-te na Voz”, que valoriza a essência do ser humano através da voz, que eu considero ser o reflexo da alma. E, claro, levo todos estes ensinamentos para as minhas aulas. 

JP: Esse projeto continua ativo? 

Bárbara: Atualmente, está presente no Telegram e em Podcast. É um espaço aberto onde partilho reflexões e conteúdos variados, incluindo Voice Activations, que são práticas mais holísticas e espirituais, focadas na cura e transformação através da frequência sonora, através da voz. 

JP: Quer explorar o canto lírico e o empoderamento através da voz como duas vias complementares? 

Bárbara: Sim, são dois caminhos inseparáveis. Aliás, o novo website que estou a desenvolver chama-se “Barbara Barradas Soprano”. Não pretendo abandonar esta designação, pois é uma parte intrínseca de quem sou. Foi precisamente através da minha jornada como soprano que cheguei onde estou, e é essa experiência que desejo partilhar. Este percurso duplo não reflete indecisão, mas sim uma clareza de direção. Quero dedicar-me intensamente ao canto, mas também ajudar outras pessoas a descobrir a sua própria voz. 

JP: Define-se, portanto, como uma cantora lírica. 

Bárbara: Agora, mais do que nunca, sinto que a minha voz encontrou o seu lugar ideal. Estou plenamente capacitada e num lugar que hoje reconheço como um auge vocal e pessoal. Todo o meu percurso trouxe-me até aqui e, agora sim, acredito verdadeiramente em mim e que é possível conciliar diferentes vertentes quando nos mantemos fiéis à nossa essência e autenticidade. Afinal, a voz é a nossa assinatura no mundo, é ela que anuncia quem somos e representa a nossa identidade. Quando nos apresentamos com serenidade, confiança e amor-próprio, reconhecendo e aceitando os aspetos em que ainda precisamos de evoluir, deixamos de lado o perfeccionismo. Isso evita que o corpo crie bloqueios, permitindo que a voz flua de maneira distinta. Foi exatamente o que aconteceu comigo: agora, a minha voz está pronta para assumir papéis que sempre me disseram que eu seria capaz de desempenhar, e que eu, intuitivamente, sempre soube que poderia fazer, mas hesitei sempre, duvidando da minha capacidade e do meu poder vocal. A minha voz está muito mais polida e decididamente lírica. Ultrapassei a fase de soprano de coloratura, pela qual sempre fui reconhecida, apesar de manter essa versatilidade e elasticidade vocal. A verdade é que a minha voz demonstra uma grande flexibilidade e capacidade de adaptação. 

JP: Quais são os seus próximos projetos? 

Bárbara: Vou participar no “Requiem pelas vítimas do Fascismo em Portugal de Lopes-Graça”, que vai ser apresentado no CCB, e na cantata em comemoração do Centenário do Nascimento de Joly Braga Santos. Para o próximo ano estarei também em cena no Teatro Nacional São Carlos enquanto Susanna, na ópera “As Bodas de Fígaro” de Mozart, e serei ainda Marie em “A Filha do Regimento” de Donizetti, no Festival de Ópera de Óbidos. 

JP: E que outros projetos gostava de concretizar? 

Bárbara: Quero criar um projeto crossover, interligando a ópera a diferentes géneros musicais. O objetivo desta proposta é tornar o mundo do lírico acessível a todos. Seja qual for o projeto, imagino-me sempre como uma soprano a interpretar obras que, apesar de parecerem simples, carregam uma mensagem poderosa de empoderamento através do som, com o propósito de transformar vidas, tal como a minha foi transformada. Por exemplo, a criação dos meus Voice Activation Codes é já uma forma de levar o mundo do lírico mais além. 

JP: Quer democratizar a ópera? 

Bárbara: É exatamente isso. Quero levar a pureza e a clareza da voz lírica a todas as pessoas e mostrar-lhes que a ópera é acessível a todos. É importante desmistificar a ideia de que a ópera é um género exclusivo para um nicho elitista. Este projeto de crossover tem o potencial de alterar perceções e abrir caminhos para a apreciação da música clássica. O meu objetivo é difundir a essência cristalina que reside no coração da ópera, essa qualidade pura e luminosa da voz lírica. Apesar de as narrativas operáticas terem uma grande carga dramática, a verdadeira natureza da voz operática é incrivelmente clara e pura quando expressada com autenticidade. É essa pureza que acredito estar a canalizar e o meu objetivo é partilhar essa vibração cristalina com todos, elevando e enriquecendo a experiência auditiva para além dos tradicionais contextos operáticos. 

JP: Quer que as pessoas conheçam o verdadeiro significado da ópera? 

Bárbara: Quero, porque ouço muitas pessoas dizer que não gostam de ópera, mas, depois de irem a um espetáculo e vivenciarem a ópera na sua essência, mudam completamente de opinião, maravilhadas com o que descobrem. Atualmente, Portugal possui um imenso talento operático de alta qualidade, e o que realmente desejo é desmistificar a ópera, mostrando que não é um privilégio de poucos. A ópera não é exclusiva para o público erudito ou para quem dispõe de grandes recursos financeiros; ela é acessível a todos e encontra-se ao nosso alcance, pronta para ser descoberta e apreciada. 

JP: Para terminar, que conselho daria a uma jovem que sonha em ter uma carreira no canto lírico? 

Bárbara: Mais do que dar conselhos, incentivaria à reflexão com perguntas como: “Qual é a tua verdadeira motivação para perseguir uma carreira no canto lírico?”; “Quais são os objetivos que tens para a tua voz e como é que pretendes alcançá-los através do estudo da técnica vocal operática?”; ou “O que te leva a escolher este caminho?” Estas perguntas são fundamentais para compreender as motivações pessoais, pois o percurso de um artista deve ser motivado pela paixão e não apenas pelo desejo de alcançar um determinado estatuto ou reconhecimento. É crucial entender o que a alma procura obter através do canto: é uma procura por validação ou por uma forma de expressão autêntica? A voz pode ser um veículo para essa descoberta e, quem sabe, a fama pode ser uma consequência, mas o mais importante é dar prioridade à satisfação pessoal e à expressão autêntica em detrimento de objetivos puramente materiais. Eu, por exemplo, tive de confrontar-me com a minha verdade: o que realmente me motivava era a alegria de estar em palco, e não a busca pela fama por si só. Reconhecer isso foi um passo crucial no meu desenvolvimento artístico e pessoal. Outra questão importante é: “Se alcançasses o que acreditas ser o teu objetivo com a voz, sentir-te-ias realizado ao ponto de considerares a tua missão cumprida?” Se a resposta for sim, estás no caminho certo; se for não, talvez seja hora de reavaliar. Acredito mais no poder das perguntas do que nas respostas prontas.

Joana Patacas - Assessoria de Comunicação e de Conteúdos

Quer saber mais? Veja abaixo uma das suas memoráveis atuações, no papel de Lucia na ópera "Lucia di Lammermoor" no Oper im Berg Festival (2015):

Próximas atuações:

28 de abril de 2024 / CCB - Requiem pelas vítimas do Fascismo em Portugal de Lopes-Graça

27 de maio de 2024 / Tivoli BBVA - No Centenário de Joly Braga Santos

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